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Ensino Vocacinal: uma resposta educativa a manter?, por Vítor Miranda

Hoje, estive, uma vez mais, presente, numa iniciativa de promoção do debate à volta da educação na escola pública, em concreto, sobre a seguinte temática - "Ensino vocacional: uma resposta educativa a manter?"

A iniciativa foi da responsabilidade do SPGL - Sindicato de professores da grande Lisboa -, do qual sou dirigente. Realizou-se no auditório da Biblioteca Municipal de Rio Maior e contou com a presença do Professor Santana Castilho como orador.

Para quem não saiba, foi em 2012 que o ensino vocacional "entrou" nas nossas escolas. Começou com três turmas numa experiência piloto. Em 2015, passados três anos, existem 1075 turmas de cursos vocacionais, cerca de 23000 alunos e 5000 empresas envolvidas.

Uma das situações que foi discutida no debate tem a ver com os cursos que se dão e as áreas voacionais que abrangem. Por exemplo, porque é que, estando os alunos sinalizados nas escola com determinadas caracetarísticas / necessidades, não se criam cursos que vão ao encontro desse necessidades?

Santana Castilho vai mais longe e afirma que este novo modelo vocacional "relembra o modelo de Salazar induzindo para vias profissionalizantes crianças que deviam estar enquadradas numa educação generalista." Ainda na ótica de Santana Castilho, tal orientação traduz o menosprezo pelo interesse dos alunos e o intuito de desresponsabilizar o estado e poupar.

Durante a palestra de Santana Castilho, estiveram presentes cerca de sessenta pessoas. Depois, no debate, participaram à volta de oito pessoas, sendo que, além das questões em análise, falou-se também da quase, por vezes, (in)atividade dos professores na gestão das escolas. Por isso, Santana Castilho destacou como primordial a ideia de que para se "pensar a educação, tudo tem de ser feito de forma pensada e a longo prazo. Acrescentando ainda que Portugal "não pode dispensar 47000 professores e mandar para o desemprego mais de 30000 afastando-os do sistema." Afinal e, quanto a Santana Castilho, o atual ministro da educação, Nuno Crato, "tem uma estratégia encomendada: privatizar a escola pública, desresponsabilizando o Estado e reduzindo o serviço público a uma lógica de mercado privilegiando o privado. A continuidade do que foi iniciado por Maria de Lurdes Rodrigues: A proletarização e a diminuição social dos professores."

Refletindo sobre tudo o que ali ouvi, não posso deixar de partilhar algumas questões que decorrem daquela reflexão e que talvez nos possam a ajudar a todos a procurar soluções para uma opção educacional - os cursos vocacionais - com muitos aspetos a melhorar:

  • Verificando-se que na maior parte das situações os cursos voacionais são "cópia" de anteriores modelos como, por exemplo, PCA, CEF, etc., que orientações devem ser seguidas para (re)formular este tipo de cursos e quem deve ter a responsabilidade de o fazer?

  • De que forma se poderá gerir a carga horária ao longo do ano, sem que a obrigatoriedade do cumprimento de horas faça com que se inventem atividades apenas para cumprir horário ou que não se considere que a participação do alunos em atividades do plano anual de atividades possa ser, como é no currículo normal, atividade leitva?

  • Como justificar e explicar que que estes cursos, criados e aprovados pelas escolas no final de um ano letivo, iniciem o novo ano sem professores atribuídos a estas turmas e sejam professores contratados que assegurem, em muitas escolas, o funcionamento destes cursos quando chegam às escolas, acontecendo isso uma semana ou até mais de dois meses após o início das aulas? E, neste ponto, é também de referir que tenho conhecimento que são, por vezes, os próprios professores contratados aqueles que ficam com os cargos de direção de turma e coordenação destes cursos.

  • Outra questão que poderia contribuir para ajudar a melhorar esta opção educativa era definir de forma iniquívoca o conjunto de critérios a ter de cumprir para se poder decidir pela abertura de um curso vocacional?

  • Haveria ainda que tentar perceber as razões pelas quais estes cursos têm taxas de sucesso que tondam os 100%, relacionando isso com o facto de quase 90% do curriculum ser desenvolvido em contexto de sala de aula e só os restantes 10 % serem de prática/ estágio.

  • Por fim, não posso também deixar de referir que é aos professores que lecionam e coordenam este tipo de cursos que se exigem que procurarem também as empresas para os estágios. E a pergunta que eu faço é que consequências adevêm dessa circunstância? Esse trabalho desenvolvdo por esses professores é contemplado em que componente do horário dos professores?

  • Parece-me que este foi outro bom momento de aprendizagem. E saí de lá com a convicção de que há cada vez mais trabalho a fazer em todas as frentes. E, como professor e dirigente sindical preocupo-me, principalmente, com os problemas do futuro da educação que, tal como Santana Castilho, disse "devem estar no horizonte dos professores, principalmente destes mais jovens, pois só a longo prazo podemos construir uma sociedade."


De facto, não podemos descurar os professores que agora ingressam na carreira e todos aqueles que já lá deviam estar e continuam a dar o seu melhor em condições de grande precaridade. É por eles, também, que continuamos a lutar e a estar presentes. Porque, afinal, somos todos professores, por isso, ao invés de dividirmos a classe docente é necessário uni-la numa luta comum. Não é criando condições diferentes para cada caso que isso é atingível. Esse tem sido apanágio deste Governo: "Dividir para reinar"!



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