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Dia internacional da Mulher, por Almerinda Bento


Na segunda metade do século XIX, com a revolução industrial e com a exploração intensiva do operariado, vão criar-se as condições para as lutas operárias, na Europa e nos E.U.A.

São as condições desumanas e discriminatórias vividas pelas operárias do sector têxtil e do calçado, que levam a que, em 1857, centenas de operárias marchem pelas ruas de Nova Iorque, exigindo redução do horário de trabalho, igualdade salarial e condições de trabalho dignas e saudáveis. Foi essa a primeira movimentação muito significativa de mulheres operárias, mas muitas outras ocorreram nos anos seguintes, marcadas por violentas cargas policiais, repressão e mortes.

É de assinalar aquela que ficou conhecida pela Marcha do Pão e das Rosas que, em 1908, juntou 15 mil mulheres nas ruas de Nova Iorque, denunciando a exploração das trabalhadoras e exigindo igualdade económica e política, nomeadamente, o direito ao voto para as mulheres.

Este sinal de combatividade e de luta feminista que não mais parou levou a que, em 1910, no II Congresso da Internacional Socialista, na Dinamarca, Clara Zetkin apresentasse uma proposta para que todos os anos se instituísse, a nível internacional, um dia para lembrar a situação particular das mulheres na sociedade. Esta proposta foi aprovada e assim, desde 1911, o Dia das Mulheres tornou-se internacional apesar de ter sido celebrado em diferentes datas, em diferentes países, em diferentes anos…

Porquê, então, 8 de Março? Porque foi num 8 de Março em 1917 que ocorreu uma greve geral encabeçada pelas trabalhadoras russas contra a fome, a guerra e o czarismo e que foi o início das acções revolucionárias que levaram à revolução de Outubro.

Mas, só em 1975, a data do 8 de Março é consagrada pela ONU como Dia Internacional das Mulheres. O ano de 1975 é designado Ano Internacional da Mulher e Portugal participa na Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher, promovida pela ONU, na Cidade do México.

Em Portugal, apenas em 1975, pela primeira vez, as mulheres portuguesas comemoraram o dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher – em liberdade. Longe ia o ano de 1910 em que Clara Zetkin fizera aprovar uma proposta de que se comemorasse a nível internacional um dia para lembrar a situação particular das mulheres na sociedade…

40 anos depois de Abril, a sociedade e as mulheres portuguesas fizeram um importante percurso de lutas e avanços que importa recordar, preservar e aprofundar. Mas os traços da desigualdade persistem nas mais diversas facetas da vida – no trabalho, nas relações familiares e afectivas, na sociedade, no quotidiano – de forma visível ou encapotada. A diferença salarial, a violência de género, o assédio, a discriminação persistente e outros fenómenos não podem continuar a ser naturalizados. Fenómenos preocupantes como a violência no namoro, a objectificação da mulher na publicidade, ou o cúmulo de se permitir espaços públicos onde mulheres não entram, porque são só para homens mas onde os cães já podem entrar… São exemplos de algo de perigoso que a sociedade não pode tolerar.

O conservadorismo e a ideologia neoliberal e patriarcal tudo têm feito para fazer retroceder o rumo da história e das conquistas das trabalhadoras e das feministas – culpando-as, marginalizando-as, remetendo-as para a subalternidade.

Lembrar o 8 de Março e o seu significado, trazendo-o para a rua é uma necessidade dos nossos dias e tem uma enorme actualidade. Em Portugal e no Mundo. Contra todos os conservadorismos. Pela afirmação dos direitos das mulheres, pela liberdade e igualdade de direitos.

8 de Março de 2015

Almerinda Bento - CIMH – SPGL

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