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Sobre as condições de trabalho dos professores, por Sílvia Pereira


"(...)

…ninguém vai à gargalhada, sequer a rir … uns sonham com uma vida diferente, outros dormem, outros choram para si…


Refiro-me às viagens diárias que tantos docentes fazem (nas quais me incluo) em transportes públicos, especialmente de comboio. Não desfazendo de muitos outros docentes que se deslocam de viatura própria e que igualmente palmilham dezenas e dezenas de Km por dia.


São os “novos” docentes em transumância (ou retornados; tendo em conta os antigos “docentes desterrados”).

São docentes dos quadros, são QZP, são contratados ou futuros desempregados. São docentes dos QE e QZP que não obtiveram destacamento. São docentes contratados obrigados a concorrer a 2 Quadros de Zona Pedagógica (que podem distar da 1ª opção à última 300Km).

São os profissionais que ajudam a manter as gasolineiras e a CP, e que este ano lhes deram um novo fôlego.


E a esta classe está vedado qualquer subsídio de transporte.


(...)

Esta “desertificação”, que já se fazia sentir no interior profundo, aumenta cada vez mais geograficamente para o litoral. Se fosse acionista da CP estaria agradecida ao Ministério da Educação mas, como utente da companhia e a pagar 242 euros de passes, o meu estado de espírito é, naturalmente, muito diferente. Mesmo assim, tive sorte (!) pois há quem ainda pague um 3º passe!


…Resta-me pois dizer que o mundo mudou… e as escolas também!


Esta “nova” classe, obrigada a percorrer Km para trabalhar, a acordar de madrugada, munida da sua marmita, descendo ao litoral, ainda se depara com reuniões ordinárias, e extraordinárias, realizar fora do horário letivo. Já para não falar daqueles docentes que têm 11/12 turmas e que têm de participar nos Conselhos de turma intercalares (que já não estão previstos no despacho da organização do ano letivo) e que se arrastam durante 2/3 semanas.

(...)

É claro que não se pode esperar de toda a classe a compreensão indispensável pois para muitos colegas que não fazem estes percursos (às vezes de 2 h), “apenas” mudou o nº de alunos (que aumentou), o nº de turmas (que aumentou) e o vencimento (que diminuiu) … (...)"

(Sílvia Pereira, Professora e Dirigente Sindical , in Escola Digital, n.º 1, pág. 30)



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